Centro Cultural de Belém
Coro Ricercare
Memória do passado - In Memoriam Terraemotus 1755
Bom Dia Música
Data: 1 novembro de 2015
Horário: 11h00
Apresentação
O madrigal renascentista, na sua componente estética muito específica, influenciou toda uma série de correntes da história da música, que chegam até aos nossos dias. A arte de colorir as palavras com música (word-painting) foi um dos recursos mais utilizados na composição do madrigal e teve repercussões maciças na criação musical ao longo dos tempos. Assumido como expoente máximo deste género, Claudio Monteverdi publicou nove livros de madrigais para diversos números de vozes, nos quais a expressividade do texto ditava o pulso da música, ou a música sugeria e amplificava ainda mais o significado da palavra. Outros compositores, como Carlo Gesualdo, elevaram a um outro nível a surpresa e a novidade estética, escrevendo obras de uma dificuldade harmónica notável, plenas de inovação e de exuberância. Associado a tudo isto, o amor surge no madrigal como tema incontornável, ultrapassando fronteiras e suscitando desafios à moralidade que se abria a passos largos a outros amplos horizontes.
Resultado claro do devir artístico em todo este período, o barroco surge cerca de um século mais tarde e, em Portugal, o nome de José Rodrigues Esteves reveste-se de uma importância crucial neste contexto. Tendo estudado em Roma, a mando de D. João V, Rodrigues Esteves deteve importantes funções na Capela Real, foi mestre da capela da Sé de Lisboa e mestre de música do Seminário Patriarcal.
O programa «Memória do passado» destaca toda a exuberância renascentista, perspetivada sob um prisma contemporâneo ou, pelo menos, próximo em termos estéticos. Partindo de obras de Rodrigues Esteves – assinalando os 260 anos exatos sobre o terramoto de 1 de novembro de 1755 – o concerto faz uma focagem clara sobre uma reinterpretação contemporânea das várias correntes estéticas do período que desembocaria no barroco, ligando assim o Renascimento ao Contemporâneo, passando pelo século XVIII.
A partir de dois madrigais de Howells – um dos mais importantes autores britânicos do passado recente –, desfia-se um percurso por entre obras de compositores dos séculos XX e XXI, criadas com recurso a vários dos modelos composicionais do madrigal renascentista.
Madrigali (Six ‘Fire Songs’ on Italian Renaissance poems), de Lauridsen, são exemplo paradigmático deste processo: partindo de poemas da renascença italiana, Lauridsen apresenta um ciclo de características híbridas e fascinantes, em que o sentido do texto é posto em evidência pela música, recorrendo quer a influências da música antiga, quer a outras íntimas da contemporaneidade de Morten Lauridsen.
O concerto termina com Leonardo dreams of his flying machine, de Eric Whitacre. Utilizando as próprias notas de Leonardo da Vinci, e compondo ao estilo veneziano de Claudio Monteverdi – tangendo-o com os traços da sua escrita contemporânea –, a obra atrai-nos não só para os vários níveis de transformação cuja base de inspiração já delineava (Leonardo da Vinci e os seus projetos precursores de um futuro de renovação criativa humana), mas também para a própria mudança de linguagem musical que ocorre em si própria, em que Monteverdi surge contagiado de uma estética de século XXI.
CORO RICERCARE
Pedro Teixeira direção musical
José Rodrigues Esteves
1. Adoramus te
2. Quam pulchri sunt
3. De lamentatione Jeremiae, a 8
4. Regina caeli laetare
Herbert Howells Two madrigals
1. In youth is pleasure
2. Before me careless, lying
Morten Lauridsen Madrigali
1. Ov'è, Lass', Il Bel Viso?
2. Quando Son Piu Lontan
3. Amor, Io Sento L'alma
4. Io Piango
5. Luci Serene e Chiare
6. Se Per Havervi, Oime
Eric Whitacre Leonardo dreams of his flying machine
Produção CCB